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Há 35 anos, o mineiro Mozart Couto, de Juiz de Fora,
desenha histórias em quadrinhos de terror. E de outros gêneros também
– como ficção científica, fantasia, erótico, futebol, música, infantil etc.
Horror, seu gênero preferido, predominou todo esse tempo. Sobrevive assim, de
uma arte mal remunerada e raramente valorizada, além de fazer capas
de livros, como alguns volumes da coleção de romances policiais da Record.
Desenhou roteiros de dezenas de autores e também criou os seus.
Raras foram as editoras de gibis nesse período que não
publicaram trabalhos seus, enquanto muitos colegas migraram para outros meios,
como publicidade e livros didáticos. Couto passou pelos selos Grafipar,
Vecchi, Maciota, Press, D-Arte, Escala, Opera Graphica, Kalako, Ondas, Nobel,
Criativo e muitas outras. Nelas, construiu uma carreira incansável, sempre à
mercê das instabilidades de um mercado frágil e ameaçado de desaparecer por
causa da internet – o de gibis. Fez milhares de páginas com tipos
aterrorizantes como lobisomens, vampiros, zumbis e múmias. Publicou na
europa por dez anos e nos EUA outros três. Tudo isso, porém, parece ter
sido apenas um ensaio para que em 2014 ele lançasse seu melhor e maior
trabalho, a obra-prima “Depois da Escuridão”, da editora Atomic, de Porto
Alegre.
O volume, em formato de álbum e em preto e branco, acaba de
ser colocada à venda, com tiragem reduzida. São duas histórias que formam as 52
páginas da edição. Na primeira, duas crianças são atormentadas por monstros que
parecem zumbis em decomposição e seres mutilado, e tentam pegá-las a qualquer
custo. Uma delas é cega. Não podem sair de casa e vivem de tentar
impedir que as criaturas entrem e as arrastem para as trevas. Na segunda, a
bela jovem Sandra vive aterrorizada desde criança com visões de pessoas mortas
de modo traumático – como suicídio por enforcamento, por exemplo. Qualquer
outro detalhe de ambas estragaria seus surpreendentes desfechos.
Uma diferença fundamental nesses trabalhos de Couto é,
claro, a exuberante qualidade de seu traço, aos 56 anos de idade. Enquanto
outros artistas que fazem desenhos costumam entrar em declínio depois de tanto
tempo de produção, seu traço nunca esteve tão exuberante e em grande forma
quanto agora. Com o detalhe relevante de ele ser um mestre na arte-final com
pincel, uma perícia que poucos dominam no uso do nanquim sobre o papel.
Couto é um artesão da imagem, daqueles que se embriagam com o cheiro da tinta e
o correr dos pelos do pincel e a fixação do preto sobre o papel. Neste trabalho
a primeira parte da HQ foi finalizada no computador, usando software livre (https://www.youtube.com/watch?v=U_JUotloYv4).
Se não bastasse o espetáculo visual que ele dá ao leitor em
“Depois da Escuridão”, as duas histórias fogem completamente dos clichês tão
desgastados dos quadrinhos de terror, que costumam terminar com uma pegadinha
no sentido de dar susto no leitor – fórmula explorada à exaustão desde as
primeiras revistinhas de terror, lançadas a partir de 1950 – no Brasil, pela
extinta La Selva, nas páginas da revista “O Terror Negro”. Não espere nada
perto disso. A resolução de cada enigma vem antes para que a trama fique mais
amarrada.
Prazer raro para quem gosta desse tipo de história, “Depois
da Escuridão” custa apenas R$ 21,90. Como sua distribuição e venda seguem um
esquema alternativo, saiba como adquiri-lo pelo e-mail fanzinequadritos@gmail.com,
com o editor Marcos Freitas. E visite o site para conhecer o trabalho
desse artista que é, para muitos, o maior desenhista brasileiro: www.mozartcouto.com.br.
Acabo de ler Depois da Escuridão! FABULOSO!!!!
ResponderExcluirA influência do "espiritismo", regressão de vidas passadas, o aspecto onírico... maravilhoso!
A arte dispensa comentários, fiquei parada em cada página por vários minutos apreciando.
Expressivo, sombrio, assustador, belo, forte!
Penso que ficou mote para uma possível continuação!!
Fiquei com vontade de "quero mais"!