segunda-feira, 19 de maio de 2014

Paxolino - Carmelo Ribeiro

Paxolino dos adoradores de Cristo nas terras da cafraria
Na época em que os navegadores portugueses conquistaram boa parte do mundo, desembarcaram na costa da terra, depois chamada Brasil, e se depararam com um universo para eles incompreensível. Entre esses navegadores estava o capitão Matias Souto Maior, único entre seus iguais, que ao deparar-se com prodígios incomuns, mesmo para aquelas terras selvagens, resolveu seguir adiante, acompanhado por uma tribo de índios brutos, assustados com a aparição de um menino de pele escura, pássaros de luz, monstruosidades gentis e um bêbado, que pareciam oriundos de outros tempos.
Os bugres acreditavam que aqueles homens barbudos e fedidos talvez pudessem salvá-los da calamidade que se abatia sobre a terra e o capitão Matias e os seus marujos acreditavam que estes poderiam guiá-los para o país dos pássaros de luz que excretavam ouro.
Partiram, então, com o fito de por termo ao desconcerto do mundo, mas acabaram por se perderem em um espaço feérico em que todos os tempos e todos os lugares se confundiam para desespero do jesuíta que os acompanhava, o padre Jerônimo Cadena, que a um minuto da loucura passou a acreditar que tudo aquilo, todo aquele mundo em desmazelo não passava de uma armadilha do demônio, o macaco de Deus, a confundir os homens naquelas terras da cafraria.
Porém, nenhum deles estava certo, pois a certeza não tinha lugar naquelas terras e a normalidade havia sido banida do mundo, pois o bizarro era a ração de cada dia naquele estranho universo, cujas leis extravagantes confundiam as mentes e a memória de todos aqueles envolvidos na estranha peregrinação rumo ao inexplicável.

 
Sobre o autor:
Carmelo Ribeiro é professor graduado em História e Mestre em Geografia. Publicou contos nas antologias “Moedas para o Barqueiro”, “Bandeira Negra” e “Espectra”. Contatos: carmelorbf@yahoo.com.br

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